segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Facebook e o recanto da solidão

Explicando aos meus alunos a relação entre valor de uso social e lucratividade (uma relação dialética inerente à mercadoria), perguntei-lhes qual era o valor de uso social do Facebook, tendo obtido uma oferta de abertura de capital no valor de 16 bilhões de dólares em 2012 (sétima posição num ranking das 10 maiores ofertas públicas iniciais IPO’S) segundo a Bloomberg, um dos principais provedores mundiais de informações para o mercado financeiro.  A classe pegou fogo e as especulações tomaram conta. A totalidade dos alunos bateram na tecla da facilidade de comunicação social...será?

O mundo que cada vez mais se agiganta tem passado por uma situação estranha. As multidões estão aí, mas solitárias, necessitadas de atenção, de contato, de ser vista, sentida, mesmo que esse sentimento seja virtual. No Face, a quantidade de postagens supera vertiginosamente qualquer parâmetro de qualidade. Burrice dos usuários? As redes sociais não foram construídas para medirem QI. Mas há um fato ainda mais intrigante nas postagens: a invenção de personagens virtuais, mudando fotos por medo da pouca beleza física, por exemplo, sendo rico morando num quarto e sala...e por aí vai. Para nós do Buracodoido a resposta já foi dada há muito pelo cantor e compositor pernambucano Alceu Valença

A solidão é fera
A solidão devora
É amiga das horas
Prima-iramã do tempo
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração
A solidão dos astros;
a solidão da lua;
a solidão da noite;
a solidão da rua.



Solidão coletiva mundial, paradoxalmente num mundo urbano de massas. Mas o mesmo cancioneiro  e compositor também cantou nos anos 70 o bar

Eu sei dos pingos da goteira
Batucando no passado
E sei que as cinzas da fogueira
não recomporão os galhos
Dia sim e dia não
Dói a minha solidão
Eu tô ficando aperreado
São trinta copos de chopp
São trinta homens sentados
Trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados
No bar 'Savoy' na Sertã
No 'Luna' bar no Leblon
Vejo a tristeza do gado


E o samba? Esse tem tantas canções, letras, músicas sobre solidão que nenhum blues jamais chegará perto de tamanho patrimônio de dor pessoal. O samba é feito de dor, com recheio de alegria para adocicá-la, tornando  essa miséria humana mais palatável, alegre: ninguém pode viver de tristeza.


Taí o Facebook! Torne a dor uma fantasia, a solidão uma mentira, a feiúra uma fotografia editada, a pobreza um carrão bacana. Torne seus sonhos impossíveis ao menos críveis na sua mente e se sinta feliz numa tela. Viva nela. Sobreviva dela, já que a crueldade do mundo de massas lhe tornou um nada no meio do universo. BRILHANTE! Poucas mercadorias possuem tanto valor de uso social E SEM CUSTOS PARA O USUÁRIO.
Do que trato não é uma crítica, mas uma contestação econômica. Essa coisa é grana pura. Mais grana do que isso só o ramo funerário que tem como cliente a humanidade. Mas disso ninguém, ao menos por enquanto quer falar:TABU!



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