Facebook e o recanto da solidão
Explicando
aos meus alunos a relação entre valor de uso social e lucratividade (uma
relação dialética inerente à mercadoria), perguntei-lhes qual era o valor de
uso social do Facebook, tendo obtido uma oferta de abertura de capital no valor
de 16 bilhões de dólares em 2012 (sétima posição num ranking das 10 maiores
ofertas públicas iniciais IPO’S) segundo a Bloomberg, um dos principais
provedores mundiais de informações para o mercado financeiro. A classe pegou fogo e as especulações tomaram
conta. A totalidade dos alunos bateram na tecla da facilidade de comunicação
social...será?
O mundo que
cada vez mais se agiganta tem passado por uma situação estranha. As multidões
estão aí, mas solitárias, necessitadas de atenção, de contato, de ser vista,
sentida, mesmo que esse sentimento seja virtual. No Face, a quantidade de postagens supera vertiginosamente qualquer
parâmetro de qualidade. Burrice dos usuários? As redes sociais não foram
construídas para medirem QI. Mas há um fato ainda mais intrigante nas postagens:
a invenção de personagens virtuais, mudando fotos por medo da pouca beleza
física, por exemplo, sendo rico morando num quarto e sala...e por aí vai. Para
nós do Buracodoido a resposta já foi dada há muito pelo cantor e compositor
pernambucano Alceu Valença
A solidão é fera
A solidão devora
É amiga das horas
Prima-iramã do tempo
E faz nossos relógios caminharem
lentos
Causando um descompasso no meu coração
A solidão dos astros;
a solidão da lua;
a solidão da noite;
a solidão da rua.
a solidão da noite;
a solidão da rua.
Solidão
coletiva mundial, paradoxalmente num mundo urbano de massas. Mas o mesmo
cancioneiro e compositor também cantou
nos anos 70 o bar
Eu
sei dos pingos da goteira
Batucando no passado
E sei que as cinzas da fogueira
não recomporão os galhos
Dia sim e dia não
Dói a minha solidão
Eu tô ficando aperreado
Batucando no passado
E sei que as cinzas da fogueira
não recomporão os galhos
Dia sim e dia não
Dói a minha solidão
Eu tô ficando aperreado
São
trinta copos de chopp
São trinta homens sentados
Trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados
No bar 'Savoy' na Sertã
No 'Luna' bar no Leblon
Vejo a tristeza do gado
São trinta homens sentados
Trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados
No bar 'Savoy' na Sertã
No 'Luna' bar no Leblon
Vejo a tristeza do gado
E o samba?
Esse tem tantas canções, letras, músicas sobre solidão que nenhum blues jamais
chegará perto de tamanho patrimônio de dor pessoal. O samba é feito de dor, com
recheio de alegria para adocicá-la, tornando essa miséria humana mais palatável, alegre:
ninguém pode viver de tristeza.
Taí o
Facebook! Torne a dor uma fantasia, a solidão uma mentira, a feiúra uma
fotografia editada, a pobreza um carrão bacana. Torne seus sonhos impossíveis
ao menos críveis na sua mente e se sinta feliz numa tela. Viva nela. Sobreviva
dela, já que a crueldade do mundo de massas lhe tornou um nada no meio do
universo. BRILHANTE! Poucas mercadorias possuem tanto valor de uso social E SEM
CUSTOS PARA O USUÁRIO.
Do que trato
não é uma crítica, mas uma contestação econômica. Essa coisa é grana pura. Mais
grana do que isso só o ramo funerário que tem como cliente a humanidade. Mas
disso ninguém, ao menos por enquanto quer falar:TABU!
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