
Não posso dizer que sou um grande viajante no país Brasil. Mas já andei dando umas voltas por ele.
Gosto muito de comida árabe. É que os árabes são parte significativa da gênese e desenvolvimento do Brasil. Os ibéricos que vieram para cá eram, todos, de alguma forma, completamente ligados aos mulçumanos árabes e berberes que dominaram a península por cerca de 800 anos. Isso sem falar na vinda árabe em êxodo após a reconquista de Granada e o deslanchar da “santa inquisição”. Possuímos essa genética que vai bem além da biologia. É a cultura do cordel, aboios, carnes, comércio, temperos, têmpera guerreira e cordial. A vinda dessa gente linda nunca parou; se modela e remodela, mas não para...ainda bem.
E a vida, essa coisa única, traz surpresas maravilhosas. No sábado passado liguei pra Ramon, grande amigo cearense de embates acalorados e com a imensa virtude de me aturar, perguntando se ele iria tomar uma. “Macho, já to tomando uma aqui numa cigarreira na curva da Rota do Sol. O povo é bacana, chegue junto”. Me mandei, é claro!
Caí direto numa confraria de amigos que se reúnem sempre aos sábados, no mesmo lugar, para festejar a vida e a amizade de anos e anos; amizade provada e atestada pela convivência no tempo que em tempo tudo prova, aprova, desaprova, finda.
E veio o quibe cru,com ótimo azeite, tiras de cebola roxa e hortelã decorando. Simplesmente delicioso, absolutamente delicioso. Mas a delícia tem suas surpresas. O quibe cru era feito por acreanos radicados em Natal. Nada mais lindamente brasileiro. Um povo misturado que nesse gigantismo territorial se construiu como uma etnia. A festa de Charles Bronson (um recifense torcedor do X port) tinha cearense, acreano, paraibano, pernambucano, BRASILEIROS.
O melhor quibe cru que já comi, feito por Leda e Osias, tem seus segredos culinários (há um algo a mais naquela delícia que faz enorme diferença). Mas talvez o seu maior segredo seja exatamente o não segredo da celebração do amor, do riso, da paz entre amigos...e da capacidade de cativar os de fora como eu, aparecido do nada e aconchegado por todos no momento em que pisei naquela cigarreira iluminada por tanta vida bacana.
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